sexta-feira, 29 de março de 2013

Da Capo III tomou C&D. Como que o gênero deveria crescer no Ocidente, afinal?


Triste notícia para aqueles que estavam esperançosos para a tradução em inglês de Da Capo III, pois a tradução da common route não está mais online (pelo menos não na Fuwanovel), já que o grupo tomou um C&D (Cease and Desist) da própria MangaGamer, que tem os direitos para a publicação dos jogos da Circus, a empresa japonesa produtora do jogo original, nos Estados Unidos.

Em um post ontem no seu blog, Aaeru, fundador da Fuwanovel, site de traduções de visual novels feitas por fãs do gênero e que são disponibilizadas para download sem qualquer custo e sem pedir doação alguma, obedeceu o pedido feito pelo advogado da empresa, mas criticou (do jeito que ele tanto gosta de escrever) o velho paradigma sobre direitos autorais que ainda continua a assombrar o mundo e como traduções feitas por fãs podem sim ajudar a alavancar as vendas das empresas, ao invés de comprometer a sua expansão para o Ocidente (basicamente o que o advogado alegou, em palavras mais pomposas).

Sabe, o mundo de "gente grande" é complicado, mas a grosso modo, basicamente funciona assim: se tem uma empresa que ganha dinheiro fazendo alguma coisa e tem um (ou vários) grupo(s) de pessoas fazendo a mesma coisa que essa empresa, mas disponibiliza de graça, esse(s) grupo(s) podem potencialmente prejudicar as vendas desta empresa, e portanto, são considerados ilegais. Isso abrange desde a pirataria convencional onde alguns afortunados compram um cd/dvd/blu-ray de música/série de televisão/jogo e "ripam" na internet, até grupos de tradução de animes e mangás e afins. E, como toda atividade ilegal, ela pode gerar multas ou até mesmo dar prisão dependendo do tamanho do furo que estiver dando no bolso de tal empresa ou terceiros.


Mas calma lá! Antes de sair criticando ou defendendo um lado da história em particular, vamos ver os pontos de vista dos dois lados. Afinal, como já disse em outros posts mais sérios do blog, o meu objetivo aqui não é ditar a verdade, mas esclarecer alguns fatos e possíveis dúvidas, fazendo com que o leitor saiba melhor do assunto e tenha uma visão mais aberta dos assuntos que abordarei aqui. Já que você leu isso, ótimo. Agora podemos continuar.

Não é novidade pra ninguém que a MangaGamer tem contratos com várias empresas produtoras de visual novels diversas, como a minori (ef ~A Fairy Tale of the Two~), Overdrive (Edelweiss, Kira*Kira, Dengeki Stryker), Innocent Grey (Kara no Shoujo) e Circus (Da Capo, Suika), apenas para dizer algumas. Para ter os direitos para poder traduzir os jogos dessas empresas e vendê-los mundo afora, ela paga essas empresas para tal, e claro, dependendo dos termos do contrato, essas empresas podem ou não aceitar a proposta da MangaGamer, fora aquelas empresas mais marrentas (*cofcofKeycofcof*) que querem que seus jogos saiam apenas para o Japão, sejam exclusivos para o Japão, e foda-se. Quer comprar o jogo? Vai ter que desembolsar uns bons trocados para comprá-lo de algum site de importação de produtos do gênero e vai se arriscar de pagar, na melhor das hipóteses, 50% à mais do preço original do jogo, e isso se não for pego pela alfândega... dependendo da sorte, até dá pra encontrar bons lugares para comprar tais jogos, como é o caso de sites como a AmiAmi ou PaletWeb, mas se o jogo que você quer é muito específico, já lançou faz um bom tempo, ou é aquela edição rara que você sempre quis, ou mesmo é de alguma empresa mais underground... infelizmente, suas chances caem drasticamente.

Bom, mas independente do que rola na cabeça fechada dessas empresas, empresas como a Jast USA e MangaGamer pagam para terem a exclusividade de lançar títulos de uma certa empresa, e pode apostar que não paga pouco não, já que é um risco para a produtora original caso as vendas deste título sejam um fiasco ou caso a imagem dela fique ruim no ocidente (tipo no escândalo de Rapelay). Como se não bastasse, essas empresas não tem tanto lucro como vocês devem estar pensando, já que, segundo o próprio fórum da MG, ela admite que já tem baixos níveis de vendas em seus lançamentos, além de que o lançamento de cracks ou torrents patcheados desses jogos nas redes de compartilhamento reduzem tremendamente o número de compras e downloads do título por meios oficiais.

Agora vamos raciocinar: você é dono de uma empresa que já tem um ninho de mercado pequeno e lucros quase que marginais. Se, de algum jeito, alguém pega o seu produto e começa a copiá-lo e distribuí-lo para este mercado, quem que vai comprar os produtos da sua empresa? É como dizem aqui no Brasil: "Pra que pagar se eu posso ter de graça?". Não é por menos que a partir de 1º de Abril, todos os jogos comprados em formato digital no site da empresa terão DRM, que é uma medida para diminuir a pirataria de seus títulos, algo que está se popularizando nos dias de hoje (e que já se provou extremamente frustrante, como em Driver:San Francisco, Diablo 3 e, mais recentemente, SimCity 2013)... e por mais que o pessoal critique, Steam têm todos os seus jogos funcionando na base do DRM também, mas ninguém reclama já que os preços que eles oferecem cobrem qualquer dor de cabeça que possa ocorrem disso.


Agora, de nada adianta falar nisso tudo sem vermos o outro lado da história. Afinal... como você conheceu visual novels? Olha, 99,9% dos casos se dá por 3, e apenas um desses 3, fatores. O cara só conhece visual novel se ele acompanhou uma série de anime/mangá/light novel que ele curtiu pra caramba e resolveu aprofundar (Fate/Stay Night e Clannad, estou falando dos seus fãs!), ou caso algum amigo já jogou e mencionou o termo ou um jogo desse gênero (Katawa Shoujo, um belíssimo exemplo!), ou você já é fã de RPGs e acabou se esbarrando em algumas das visual novels com elementos de RPG, tipo Utawarerumono e Kamidori Alchemy Meister. Se você conheceu o termo por pura sorte, seja por um vídeo no Youtube ou algum post de blog mais famoso, você está de parabéns, mas saiba que você é apenas uma minoria.

Enfim, ambas a Jast USA e a MangaGamer não possuem títulos tão reconhecidos assim nos seus armamentos. Ambas não têm um Clannad ou um Fate/Stay, mas ainda assim, temos traduções em inglês para eles (fora outras também, pelo reconhecimento dos jogos) e não foi por falta de encheção de saco por parte dos fãs, como você pode averiguar em vários sites e fóruns por aí. Agora, imagina se, ao invés disso, fossemos obrigados a pagar caro pela importação de um jogo e ainda ter que aprender japonês para podermos jogar o jogo? Já imaginou que injustiça que seria para os fãs de visual novels se apenas os títulos localizados oficialmente estivessem no ar?

É por esse motivo, de aproveitar o conhecimento que o grupo tem para tradução, edição e programação, que as equipes de tradução traduzem jogos de uma determinada franquia ou de determinado jogo que está ficando popular, ou jogos de uma empresa em especial. Eles não fazem isso para ferrarem com as empresas e produtoras originais, mas sim para tornar essas obras mais acessíveis ao público (e sem estar pirateando por assim dizer, já que esses grupos entregam só a tradução do jogo, e não o jogo inteiro).

É, também tem isso...
"Ah, Out, que visão mais ingênua. O aparecimento de equipes de tradução só contribuí ainda mais para a pirataria, já que esses jogos são facilmente acessíveis em sites e redes de compartilhamento."
Meio certo para o argumento acima. Uma parte está certo, pois de fato, se a pessoa pode ter o jogo de graça, ela não vai pagar, sei lá, 100 doletas pra cópia física do jogo, a menos que seja um fã bem die-hard (e endinheirado). Agora, a parte errada é não ter o jogo disponibilizado aqui no Ocidente e tentar proibir que esses grupos independentes lancem traduções para esses jogos. Aí, entramos num ciclo vicioso e que é muito difícil de sair dele.

Se o jogo não é bem reconhecido no Ocidente, as empresas não terão interesse de traduzí-los. Sem muitos títulos do gênero traduzidos, é muito difícil alguém se interessar espontaneamente nesses jogos, pois eles não têm alcance tão grande quanto os jogos mais populares. Se esses jogos não têm tanto alcance, cada vez menos empresas estarão interessadas em traduzí-los e começarão a atuar em diferentes áreas. Com cada vez mais jogos "convencionais" disponíveis e cada vez menos visual novels sendo traduzidas para o inglês ou seja lá qual for o idioma, as chances das pessoas jogarem esses jogos ao invés de visual novels serão maiores, e assim o ciclo continua, até, eventualmente, os jogos permanecerem exclusivos para o público japonês, assim como era até a primeira metade da década passada.

Grupos de traduções de visual novels surgiram para quebrar este ciclo, pois por mais que a grande maioria dos jogadores baixem os jogos dessas traduções, esses jogadores poderão presenciar uma história que do contrário eles nunca leriam. Para as pessoas que gostaram muito do jogo, elas vão compartilhar seus sentimentos ao jogar o jogo com seus amigos, provavelmente irá comprar os jogos subsequentes desta empresa, passará a se interessar cada vez mais pelo gênero, e claro, espalhará a notícia, fazendo com que cada vez mais pessoas conheçam o gênero, expandindo o ninho de mercado que falei uns bons parágrafos atrás. E se o problema for mesmo as vendas, temos inúmeros serviços que provam que, mesmo colocando um preço ridiculamente baixo no produto, ele pode ter muito lucro. É só olhar para Netflix, Hulu, a própria Steam e seus derivados, algumas editoras de mangás americanas que disponibilizam a leitura de quantos mangás quiser pagando uma assinatura ridícula, Crunchyroll, novos planos de operadoras de celulares, e mais uma infinidade de outras empresas que ingressaram nos "micro-planos". Por que não fazer o mesmo para visual novels?

Se essas empresas fossem espertas mesmo (como foi o caso da Jast USA com a TLWiki), elas não reprimiriam esses grupos, mas sim, saberiam trabalhar com eles, seja recrutando-os para serem tradutores oficiais, ou para dar conselhos para qual jogo traduzir, ou para apressar o processo de tradução dos jogos. Tacar C&D neles não vai diminuir a pirataria e muito menos tornará o gênero mais popular. Vale lembrar que os tradutores de VNs, na maioria das vezes, são os maiores fãs dos jogos que ela traduz e os que mais contribuem para que a empresa e seus jogos façam sucesso. Afinal, para a MG e a Jast USA surgirem, com certeza elas viram um mercado que tem potencial (novamente, por causa das traduções não comerciais e das comunidades/fan-bases e fóruns relacionados a esses grupos ou para o gênero) e começaram a investir nele. Atacar os grupos de tradução como "empecilho para as vendas" seria como dar um tiro no próprio pé. Parafraseando o grande Sun Tzu, "Aquele que sabe quando pode batalhar e quando não, será o vitorioso."


Eu sei que o grupo de tradução já estava errado pra começo de conversa porque a MG já anunciou que iria traduzir DCIII mais cedo ou mais tarde, mas que este post valha como um post mais "polêmico" sobre se os grupos de tradução deveriam continuar a existir ou não.

... e você, o que acha? Acha que grupos de tradução deveriam existir como sempre existiram para que o gênero seja mais difundido no resto do mundo? Ou acha que o melhor caminho é deixar tudo nas mãos da MangaGamer e da Jast USA (e outras, se surgirem) porque elas sabem o que estão fazendo? Gostaria de ler o seu comentário!
Out.

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