sábado, 25 de maio de 2013

Análise [9] - Corpse Party: Book of Shadows - O Medo nunca foi tão viciante

Lembra quando falavam que era perigoso passar cerol na linha da sua pipa?... então...
Visual novels all-ages geralmente têm fama de serem "pra criança" ou com "história bobinha" e sem nenhum atrativo aparente para os fapeiros de plantão. Bom, quem já jogou jogos da Key recentemente (Rewrite, Clannad, Little Busters sem ser versão Ecstasy) sabem que isso nem de longe é verdade, mas se você ainda acha que ela é exceção, pense de novo.

Corpse Party foi um jogo lançado originalmente para PC-98 (sério, tanto que é raríssimo encontrar o jogo original) e que acabou caindo meio que na escuridão com seu estilo RPG de jogo misturando elementos de medo e terror nele, inspirando-se bem em clássicos do gênero como Clock Tower e Alone in the Dark. Muito tempo se passou até que a Team Grisgris resolveu fazer um reboot da série em 2009 com o apoio da 5pb, chamado Corpse Party: Blood Covered, inicialmente sendo lançado por capítulos e para PC, mas que mais tarde ela conseguiu lançar uma compilação de todos os capítulos do jogo para o PSP e com mais alguns extras como CGs e cenários bônus, reentitulado-o como Corpse Party: Repeated Fear (ou simplesmente Corpse Party aqui no ocidente). O nível de qualidade do jogo foi tão surpreendente que a Xseed, a mesma empresa que localizou Legend of Heroes, Wild Arms e Lunar: Silver Star Harmony para o inglês, se interessou em localizar o jogo e obteve o doce deleite de ver uma fan-base se expandindo por aqui, bem como um bom número de vendas e até mesmo o apoio da própria Sony na divulgação do jogo.

O segundo jogo da série, Book of Shadows, será o jogo analisado desta vez. Vale lembrar que, se você não jogou o primeiro jogo para PSP (que também possui tradução para o inglês), pode ficar meio perdido no jogo, mas não tema, nada está tão perdido... apesar de recomendar seriamente jogar o primeiro jogo para não sofrer spoilers desnecessários ao jogar este jogo.

Sem mais delongas, vamos à análise!

História e Rotas

O jogo começa a partir de um dos wrong ends do jogo anterior, onde Mochida Satoshi consegue escapar da escola amaldiçoada de Heavenly Host por um triz, mas que acaba por descobrir que ele na verdade voltou no tempo um dia antes da sua sala fazer o ritual do "Sachiko para sempre". Ele tenta em vão convencer seus colegas a não fazer o ritual, mas no último instante ele decide participar para evitar que algo pior aconteça com eles. Assim, mais uma vez, Satoshi, Naomi, Seiko, Ayumi, Yoshiki, Morishige, Yuka, Mayu e a professora Yui vão para o colégio assombrado de Heavenly Host, mas, ao invés de reviver os mesmos cenários do jogo anterior, eles tentam se desvencilhar de seus destinos, mas mal eles sabiam que resistência é inútil nesta dimensão.

Apesar de ter alguns cenários alternativos em relação ao jogo anterior, o jogo não se passa de alguns cenários alternativos (os famosos what-if) caso a história continuasse a partir deste wrong end específico do jogo anterior, mas por sorte, ele também conta com outras side-stories de outros personagens, como a história da Yui e sua ida para Heavenly Host e até um capítulo onde explica-se (bem superficialmente) o motivo da Naho mandar pessoas para lá, além de arcos de estudantes de outras escolas que ficaram presos e deveriam enfrentar os mesmos obstáculos dos estudantes da Kisaragi Academy.

O jogo é dividido em 7 capítulos, cada um focando em um grupo específico de personagens, além de um capítulo secreto, que é um prólogo ao próximo jogo, curiosamente entitulado Blood Drive (também o título do próximo jogo da série), que conta a história de Naomi e Ayumi após elas escaparem de Heavenly Host (desta vez, após o True End do jogo anterior) e em sua busca para tentar reviver seus amigos mortos e descobrir de uma vez por todas porque aquela escola amaldiçoada existe. Alguns capítulos são mais frenéticos que outros, mas todos são, sem dúvidas, muito emocionantes e com seus momentos tensos, macabros, sanguinolentos e arrepiantes.

Traços, Trilha Sonora e Animação
Você também conhecerá novas personagens neste jogo, umas até familiares caso tenha jogado os capítulos extras do jogo anterior.
Os traços do jogo é algo bem familiar caso você já tenha jogado o jogo anterior, exceto que, desta vez, o jogo só tem CGs ao invés de uma engine de RPG 2D como nas partes de exploração do primeiro jogo. Se você já jogou algum jogo da série Sherlock Holmes (para PC, claro, sem comparar com as versões para consoles que são em 3D e tudo) ou algum jogo de investigação no Facebook, é nesse estilo, mas por se tratar de um jogo oriental, os personagens e cenários têm um toque mais "animesco", se parecendo bastante com as CGs de uma visual novel comum mas sem o número esdrúxulo de detalhes que as VNs mais recentes exibem. De um jeito ou de outro, o visual continua sendo muito bem desenhado, tanto para os personagens já familiares quanto para os personagens não-tão familiares que aparecem no decorrer do jogo.

A trilha sonora está consideravelmente melhor que a do jogo anterior, incluindo novas músicas e até algumas remixagens de algumas músicas do jogo anterior. Temos muito mais músicas que botam medo e até algumas para os momentos mais tranquilos do jogo. Indo de músicas suaves com flautas até pizzicatos insanamente rápidos e desordenados, de peças de música clássica até batidas frenéticas de um rock dos anos 2000, com certeza vai ter uma música que você vai acabar gostando muito (especialmente nos últimos capítulos do jogo), além das poucas músicas cantadas, as insert songs, no jogo.

A animação pode não ser algo surpreendente para uma visual novel convencional, mas de uma coisa eu vou ter que mencionar aqui: a dublagem está AINDA MELHOR! O áudio continua em sua gloriosa forma japonesa, mas temos um número absurdo de vozes tanto para personagens principais quanto para os personagens de outras escolas que você encontra no meio do caminho. Desta vez, ao invés de apenas pronunciar os diálogos dos personagens, há também a "narração" dos pensamentos do personagem controlado (assim como ocorre em, digamos, jogos de Ore no Imouto e a versão para Xbox 360 de Clannad), transmitindo a sensação de medo ainda melhor para o jogador, tanto nos momentos desesperador esdos personagens quanto nos seus gritos e urros em seus wrong ends. Não digo que são todos os textos que são dublados, mas a grande maioria que não inclua descrição de objetos estão lá.

Opinião
Jogos Mortais em formato VN? Mais foda que isso!
Olha, minha opinião pode estar meio viciada por eu ser um grande fã da série (que no começo eu não botava a mínima moral), mas acredite se quiser, mesmo se esse fosse o primeiro jogo da série que eu tivesse jogado, duvido que a minha experiência com ele fosse tão menos ou mais emocionante. Como fazia bastante tempo desde quando eu completei o jogo anterior da série, haviam várias coisas que eu não estava lembrado, tanto na parte de spoiler quanto na parte não-spoiler (que a Yui já tinha sobrevivido à Heavenly Host, por exemplo, que mais tarde fui verificar que é um dos primeiros diálogos dela), e mesmo assim o jogo te dá uma luz sobre alguns acontecimentos-chaves que ocorreram no jogo anterior, apesar de que eu sinto um falta de uma recapitulação própria dos acontecimentos do jogo anterior ou de um index sobre alguns termos e personagens.

Sobre Book of Shadows, confesso que tive que me acostumar com o jeitão do jogo, que por mais que ele seja de exploração livre como no jogo anterior, ele se dá de maneira diferente. Ao passo que antes você podia caminhar livremente pela Heavenly Host, agora você apenas visita determinados lugares (na ordem que bem desejar), como alguns blocos dos corredores, as salas de aulas e demais espaços. Vários dos lugares que tinha no jogo anterior estão aqui presentes, mas chega a ser um tanto frustrante você acabar perdendo uma pista por passar reto uma sala ou não ter inspecionado direitinho um determinado laboratório e acabar preso num wrong end por causa disso, mas isso é algo que você, forçadamente ou não, deverá se acostumar, já que, assim como o jogo original, há partes do jogo onde simplesmente escolher a opção correta não significa que você obterá o true end do capítulo, algo bem único para visual novels e que é difícil de explicar sem me prolongar muito.

Sobre a história, ela me decepcionou um tanto, com exceção de alguns poucos (e o último) capítulos. De fato, há capítulos em que explica algumas coisas que o jogo anterior não explicara, como o motivo da Naho colocar o ritual em seu blog ou de como Yui sobreviveu sua primeira vez em Heavenly Host, mas há também capítulos que não fazem o menor sentido, como o próprio capítulo da Yui (a maior parte deste é monótono e superficial) e de capítulos que não falam da história dos alunos do colégio Kisaragi diretamente., fora ainda deixar em branco algumas explicações, como o motivo da Naho não se livrar da Sachiko ou de como a nova realidade alternativa se liga com a história. Ao mesmo tempo que ele compensa isso com um pouco de história dos personagens, ele falha em dar um sentido verdadeiro a esses capítulos, algo que pode ser desconcertante.

Apesar disso, tem uma coisa bem bacana quando se trata de escolhas e inspecionar salas, pois uma nova adição ao jogo foi o medidor de "darkening", onde, dependendo do que você inspeciona ou de suas escolhas no decorrer do jogo, o seu medidor darkening pode aumentar muito ou pouco (nunca diminuir!), e dependendo do nível de darkening, você pode começar a ver alucinações e até mesmo conseguir um wrong end se o seu medidor atingir um nível muito alto (ou mesmo 100%, onde acontecem cenas bem interessantes). Se você já jogou Eternal Darkness, você sabe do que estou falando. Além disso, há certos easter eggs e cenas adicionais que podem ser obtidas dependendo do nível de darkness atingido, e até mesmo outras que só podem ser vistas (incluindo outros wrong ends) após terminar o capítulo, o que eleva o fator replay exponencialmente e deixa você facilmente preso ao jogo de uma maneira impressionante.

E falando em fator replay, o jogo sabe muito bem como recompensar o jogador com praticamente qualquer coisa que ele faça, algo incrível para uma visual novel, ainda mais de PSP. Conseguiu o wrong end do capítulo? Sem problemas, pois para habilitar o último capítulo do jogo, você deverá encontrar todos os wrong ends de todos os capítulos, algo que o jogo indica com boa clareza (exceto caso você tenha um save do jogo anterior). Conseguiu o true end? Você habilitará comentários dos dubladores (com direito a legendas em inglês!) sobre o capítulo que você jogou, a experiência deles ao narrar seus respectivos personagens e muitas outras coisas, além de, claro, habilitar o próximo capítulo para jogar. Está empacado em um capítulo? Você pode tentar, enquanto procura o jeito certo de passar o capítulo, cadáveres de outros estudantes que ficaram presos em Heavenly Host, cujas causas-mortis podem dar dicas de como passar de uma determinada parte, além de poder encontrar mensagens escondidas e reações diferentes ao inspecionar um mesmo objeto várias vezes. Mesmo se você pegar todos os items necessários para passar de uma determinada parte, dependendo da ordem que você pegue ou dependendo de quais lugares você visita com eles, você pode abrir CGs novas ou diálogos extras entre personagens. Para os complecionistas de plantão, este jogo é um prato cheio!

Veredito Final
O Book of Shadows existe mesmo, não é apenas um nome "bonito" para uma sequel, não...
 Pontos Fortes 
      *Jogo extremamente viciante
      *Atmosfera do jogo é excelente
      *Dublagem e trilha sonora melhoradas
      *Número de CGs e extras habilitáveis
      *Explicação de várias coisas que o jogo anterior deixou em aberto
      *O último capítulo do jogo

 - Pontos Fracos
      *Alguns capítulos pareceram desnecessários
      *Falta de um index ou lista de descrição e história dos personagens
      *Algumas localidades do jogo anterior não estão presentes
      *A falta de uma continuação direta dos acontecimentos do jogo anterior (exceto no último capítulo)

Nota: 8,5/10

Opinião final: Em comparação com a anterior, ela consegue surpreender ainda mais o jogador, deixando ele com ainda mais medo e fazendo despertar nele ainda mais o senso de investigação, de curiosidade em inspecionar tudo que ele pode, todos os lugares e descobrir todas as minúscias.

Para o jogador novato, ele pode ter um pouco de dificuldade em entender o jogo no começo por alguns fatos parecerem estranhos e sem explicação, mas uma vez que ele consiga pegar o jeito, ele vai querer entrar de cabeça no universo da série. O jogo não conta apenas com escolhas certas ou escolhas erradas, apesar de terem algumas escolhas que instantaneamente resultam em wrong ends, mas nada disso é injusto. Pistas estão em toda parte, alguns espíritos dão dicas e até items valiosos para a sua jornada (uns que inclusive previnem alguns wrong ends), cartazes espalhados na escola têm um fundo de verdade nas suas palavras, e sempre é bom usar o (extenso) backlog do jogo para relembrar dos diálogos dos personagens, muitos dos quais também dão dicas e pistas em alguns puzzles do jogo, além de poder, em último caso, usar o raciocínio lógico para fazer a escolha certa.

Resumindo o resumo, independente de você já ter jogado uma visual novel na sua vida ou não, Corpse Party: Book of Shadows é um ótimo jogo para se começar. Por apenas 20~30 dólares dá para você comprá-lo para o seu PSP ou Vita, rendendo facilmente 20 horas de jogo apenas para conseguir os true ends dos capítulos e dando brecha para uns momentos de exploração e wrong ends ocasionais. Caso queira ver Blood Drive (e acredite, você VAI querer, por ser um prólogo do próximo e último jogo da série), pode acrescentar umas 5~10 horas nisso aí, e se ainda quiser obter todos os cartões de identidade dos estudantes mortos e as CGs extras para "platinar" o jogo, o caminho é ainda mais longo. Seja apenas para matar o tempo ou para uma nova e intrigante história de se conhecer, este jogo é para você, e como está em inglês tudo bonitinho, eu não perderia esta chance!

Olhou pra trás, morreu!
E com isso terminamos mais uma análise de visual novel. Eu fico por aqui, e até a próxima!
Out.

2 comentários:

  1. muito bom :D tb sou viciada e amei XD

    [só gostaria do link - eu tenho mas seria muito útil ;3]

    bjs

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  2. Eu amo muito esse jogo ^^
    Já vi vários gameplays mas....*suspira* O MEU DA PROBLEMA!
    Mas eu realmente amo o jogoooo [
    Bjs bye \o

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