sexta-feira, 31 de maio de 2013

Primeiras Impressões - Kingdom Hearts (mangá brasileiro) [aka: PRA QUÊ, JESUIS!?]


Pois é, nem eu acreditei quando o vi nas bancas pela primeira vez. Eu fiquei, tipo, "PQP, KINGDOM HEARTS FOI LANÇADO NO BRASIL!!!1UM1!!!"... até eu estranhar a editora do mangá. Não se trata nem de uma publicação da JBC ou da Panini ou da Sampa ou da NewPop ou de qualquer uma das editoras que normalmente publicam mangás, mas sim da editora Abril. É, ela mesma, a mesma editora que publica revistas desde a IstoÉ até a Playboy, agora publicando mangás... depois de me irriquietar um tanto com o fato, descobri que, por ter personagens da Disney em Kingdom Hearts, ela teria automaticamente os direitos para publicá-lo sem nenhuma argumentação uma vez que ela é a detentora dos direitos de publicação de qualquer coisa impressa que tenha o logo Disney no meio, e foi assim que nasceu o maior problema da minha vida.

Mas você deve estar se perguntando "Mas por quê, Out? A Abril é uma editora conceituada e com trocentos milhares de funcionários para garantir uma boa adaptação, tanto na qualidade do papel quanto na qualidade da tradução". De fato ela tem capacidade para isso, mas a situação é pior do que se pode imaginar. E olha que isso vem da boca de um fã da série.

O visual do Squall (Leon) Leonheart, de Final Fantasy VIII, ficou bom... uma pena que só em algumas partes o traço do mangaká fica bom assim...
A qualidade do mangá não tem nada de mais se comparado com a qualidade da Panini e diria que até um pouco abaixo, mais ou menos no padrão da Nova Sampa (Hitman matador por acaso, Yakuza Girl e o grande mangá de Ikkitousen, que apesar de algumas falhas, valeu a minha análise e no final das contas vale a pena comprar), só que com preço de mangá mais caro que a JBC: R$ 12,00. Só que essa diferença de preço não é vista em lugar nenhum do mangá, e como a Abril já tem contrato com a Disney, duvido muito que seja devido a encargos do autor do mangá ou da editora original japonesa.

E logo ao abrir o mangá do seu jeito convencional, você abre justo nos créditos de tradução e localização do mangá... mas, ué? Eu tenho certeza que eu abri da direita para a esquerda... ah, não acredito... depois de tanto tempo lendo mangá, tenho que me reacostumar a ler da esquerda pra direita! Mas que ódio! Pra que isso? Quantas vezes eu tenho que dizer que não é pra mexer na diagramação original do mangá, até a JBC que fazia isso com seus primeiros mangás mudou de ideia e voltou atrás... bom, após abrir do jeito certo, há um breve prefácio dizendo um pouco (bem pouco mesmo) da franquia e um resumo (bem meia-boca) sobre mangás e HQs em geral, com direito a várias frases clichês como "O sucesso deste projeto tem algo de... mágico" ou "Agora é a hora de Sora, o protagonista, enfrentar o maior desafio da sua vida"... só que eles se justificam falando que este é o sentido original de publicação da obra... vocês escaparam do meu rage reaction por pouco, mas ainda assim é algo que não consegui me acostumar e que diversas vezes vi as cenas na ordem errada por causa disso.

A história em si é virtualmente a mesma do Kingdom Hearts original (com algumas encurtações, claro): Sora, Kairi e Riki estão juntos numa ilha e pretendem explorar o que há além dela construindo uma barca. Entretanto, quando a barca deles ficam pronta e eles decidem partir no dia seguinte, ocorre uma tempestade, e quando Sora sai para verificar se suas barcas não estão sob perigo, ele encontra Riki, estranhamente envolto por sombras e fazendo uma proposta confusa para Sora. Depois de um desenrolar bem intenso e cheio de coisas acontecendo, Sora acaba por ser escolhido como o portador do diário do futuro da Keyblade, uma arma misteriosa em formato de chave, e acaba por parar na cidade de Traverse Town, um "ponto de encontro entre mundos diferentes", e lá eles vão encontrar Pato Donald e Pateta, que estão a procura do rei, Mickey Mouse. Sora, um tanto confuso e relutante, acaba por se juntar a eles para uma viagem para diversos mundos em sua busca, visitando os universos de várias séries da Disney no caminho. A história no começo é enrolada mas tem os seus momentos épicos que fazem valer tudo a pena, além de misturar brilhantemente o crossover da história principal com várias séries da Disney. Infelizmente, enquanto o enredo é bom, o mangá consegue piorá-lo e fazê-lo massante para o leitor.

O passo do mangá é tão rápido que não dá pra entender muita coisa mesmo, muito pelo contrário de como acontece no jogo.
 Primeiramente, vem o passo em que a história é contada. Eu sei que não dá pra caber tudo de um RPG de 50+ horas em míseros 4 volumes de mangá de 130 e poucas páginas (... espera, 12 reais pra 130 páginas sendo que os títulos da Panini e JBC são mais baratos e vem quase 50% a mais em páginas? Pode isso, Arnaldo?), mas é tudo tão confuso. E pra piorar, a história se divide em vários cápitulos super curtos, de menos de 10 páginas cada um, e pra cada transição de capítulo usam-se 2 páginas para um desenho bem simples até. Ou seja, você tá pagando relativamente caro (em comparação com outros mangás de outras editoras) pra ter efetivamente umas 110~105 páginas de história corrida à beça... decepcionante? Que isso irmão, o buraco é mais embaixo.

A arte do mangá tenta misturar traços característicos com traços de histórias em quadrinhos. Tem horas que isso dá certo, mas aqui não desce. Vários erros de proporção nos personagens no decorrer das cenas (isso não considerando quando os "erros" são propositais) não compensam os raros quadrinhos em que aparecem cenas mais bonitas ou detalhes em batalhas mais elaboradas. Eu sei que é difícil para alguém desenhar e bolar o roteiro de uma história ou adaptação para mangá, mas bem que o mangaká poderia contar com a ajuda de mais alguns assistentes mais críticos, pois a impressão do mangá é que ele saiu nas pressas e nas coxas.

Por fim, tem a tradução dos diálogos e demais textos. Há algumas coisas que são debatíveis, como deixar o nome de Keyblade e os nomes da magia, algo que eu particularmente concordo (apesar de não explicarem, ou pelo menos tentarem, o nome da Gummiship), e seja lá quem foi o editor responsável pela edição de imagens fez um trabalho bem bonito traduzindo onomatopéias e efeitos sonoros para o português ao invés de deixar em japonês com o equivalente em português embaixo (né, JBC? Se bem que a culpa não é sua, eu até prefiro que deixem o original, mas cá convenhamos que é um trabalho chato e que deve ser adimirado), mas a tradução em si parece algo mecânico demais, como se eles pegassem os diálogos originalmente japonês, traduzisse no Google Tranlator e dar uma leve maquiagem para não deixar muito na cara. Erros de ortografia ou morfológicos são raros, eu particularmente não achei nenhum, mas as falas dos personagens são muito robóticas e sérias, e poxa, Sora e o pessoal são crianças praticamente, poderia afrouxar as rédeas da revisão dos textos e deixar algo mais em dia com os padrões atuais coloquiais, assim como, novamente, a Panini e a JBC fazem, mesmo que cada uma com seus jeitos próprios. Isso é algo que faz perder a "magia" do mangá, tira a emoção quando é pra ter e tira a graça quando é implícita.

Ah, essa batalha...
*hah*
Sabe, é complicado fazer uma primeira impressão assim. Pelo lado técnico, o mangá é um fracasso overpriced, mas por outro, é uma franquia que eu gosto e até me sinto culpado por estar escrevendo tão mal de algo baseado numa franquia que eu gosto tanto e que marcou minha infância. Fico dividido nisso, mas no final das contas a realidade vem à tona: não tem como eu me apegar de novo à série com uma adaptação dessas. Toda a magia que a Square Enix colocou no jogo original não está presente aqui, e no lugar, algo que tem um começo promissor mas logo fica confuso e querendo se tornar algo que o jogo não é: chato e mal planejado.

Eu acho que depois da minha compra do mangá de Mirai Nikki, a compra de Kingdom Hearts brasileiro foi uma das piores decisões econômicas que eu tomei nesse ano. Por mais que seja só "12 conto" e que nem se compara com o tanto que eu pago quando taxam algo meu na alfândega, esse mangá foi praticamente uma enganação. Pelo que se dá a entender, a editora Abril vai publicar mais mangás da série no futuro, uns que contam com o sentido original de leitura de mangás e, pelo menos eu espero, com melhor qualidade e um preço melhorzinho, mas até lá, minha recomendação é não comprar esse mangá! (exceto se você estiver acostumado a ler gibis da série e está procurando algo a mais do que simplesmente histórias simples para passar o tempo).

Bem, essa foi mais uma Primeiras Impressões do blog. A dica está dada!
Out.

3 comentários:

  1. Ele foi lançado até no japão no sentido de leitura ocidental, não foi a abril que mudou.

    ResponderExcluir
  2. Amigo, não querendo te criticar (mais já criticando) seus apontamentos são generalizados e estereotipados. A tradução foi o que mais me chamou atenção, já que a Abril teve a decência de não traduzir os nomes e as expressões da série (coisa que a JBC sabe fazer muito bom e me irrita até nas minhas séries favoritas). A qualidade do mangá é muito boa, visto que é voltado ao público infantil e tanto a capa quando o papel e a montagem do mangá são mais resistentes do que qualquer outra editora já fez. Eu, como fã da Disney, amei o mangá e é um dos melhores desse ano. Ignorando o preço, que também achei alto. O escritor/tradutor teve a sacada de utilizar os quotes dos filmes da Disney no mangá. e isso foi mesmo uma sacada de mestre. (Repare em algumas falas do Alladin, do Hades e do Phill, são idênticas à dublagem brasileira dos desenhos). Bom, gosto é gosto. Talvez você não tenha gostado nenhum pouco. Apenas quis apontar alguns positivos na série, já seu post é bem desmotivador e, se alguém o ler antes de comprar, pode perder uma história linda. Também achei vários pontos negativos na edição... como o excesso de capítulos. Isso seria justificável, se tratando de uma obra da Abril direcionada á novos leitores, que podem ler um pouco de cada vez e parar entre os infinitos capítulos (quem não tem o hábito da leitura,por exemplo). Eu achei esse ponto massante, mas relevante. Também achei a história corrida demais, tendo que olhar atentamente pra onde começa uma coisa e termina outra. Isso não é culpa da versão nacional, mas de quem adaptou a série. Ela é famosa no mundo todo assim, a maneira dela.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Seus pontos são válidos e respeito o seu ponto de vista. A questão é que acho que você não leu o meu post inteiro, pois apesar de eu "meter o pau" no mangá tanto, assim como eu escrevi no post, *é uma franquia que eu gosto e até me sinto culpado por estar escrevendo tão mal de algo baseado numa franquia que eu gosto tanto e que marcou minha infância.*

      O ponto de vista escrito por mim é o ponto de vista de um fã da série, que cresceu com os jogos da série, sabe da história deles e é bem mais maduro que o de uma criança ou alguém que não está acostumado a ler mangás e obras no mesmo estilo. E caso você não tenha lido as minhas primeiras impressões de outros mangás como o de Soul Eater (que está na aba "Análises e Reviews") ou a minha "mini-série de vídeos" dando um overlook nos mangás nacionais, eu canso de falar que fico desapontado com adaptações de nomes e termos específicos, marco característico da JBC. Entretanto, para qualidade de papel e capa, tente pegar um Mashima-En, ou Burn-up Excess, ou K-ON, ou Sakura Card Captors/Rurouni Kenshin novo e você verá porque ele não é lá grande coisa.

      Confesso que poderia ter sido mais técnico ou profissional na minha análise, mas isso ainda não tira minha insatisfação do mangá. Não dá para eu recomendar algo que eu não gostei, por mais que seja de uma série que eu gosto.

      Excluir